Com ou sem aplausos, aqui estamos nós!
Terminávamos a nossa estada no Rio de Janeiro com o pôr-do-Sol no arpoador. Na praia, todos atentos, esperando, até que ele partisse para substituir a Lua, que vinha do outro lado da Terra. Confesso que, de início, não entendi os aplausos. Talvez tenha sido, realmente, o espetáculo natural mais lindo que já presenciei, mas, por que a exaltação, se no outro dia ele viria novamente? Exausto da longa jornada que se encerrava ali, busquei entender assim mesmo!
Dois dias de viagem, percorridos em 12 ônibus que compunham a delegação pernambucana disposta a cruzar o país desde o Recife até o Rio de Janeiro. Estudantes que buscaram vencer todas as dificuldades, e se integraram aos quase cinco mil que, organizados pela União dos Estudantes de Pernambuco, atenderam ao chamado da União Nacional dos Estudantes. Desta vez, a cidade maravilhosa recebia todo o Brasil para o Conselho Nacional de Entidades de Base (CONEB), grande encontro de diretórios e centros acadêmicos que estavam lá pra dizer o que os pensamos e queremos da educação brasileira! Hora de levar a vontade dos estudantes que representamos diariamente, para engrossar o coro dos anseios de tantos milhares de outros, também representados ali!
Findo o CONEB com exemplar democracia e imensa representatividade em discussões tantas sobre temas como soberania nacional, desenvolvimento econômico, plano nacional de educação e Sistema Único de Saúde, e prontos para ocupar as ruas no mês de Março em defesa das nossas demandas, era hora de receber a 7ª Bienal de Arte e Cultura da UNE de braços bem abertos! Foi a vez de discutir, aprender e entender o samba como elemento que unifica este povo que, em sua diversidade, luta, sem deixarde sorrir jamais! Era o momento de, junto a grandes ícones como os sambistas Beth Carvalho e Martinho da Vila e o sociólogo Emir Sader, ‘abandonar, corajosamente, o medo de que o Brasil termine em um imenso carnaval, sem prazo para a última batida, mostrando que ser feliz também é o combate’. *
Demonstrações firmes de que o movimento estudantil brasileiro está, sim, mais vivo do que nunca, presente nas ruas e praças deste gigante tupiniquim! E se, mesmo naqueles dias tão duros e sombrios reivindicamos o direito de reivindicar, no último sábado paramos o transito do Rio de Janeiro para dizer que queremos 50% do Fundo Social do Pré-Sal e 10% do PIB para a Educação! Sim, continuamos ousados! Sim, continuamos ativos e preocupados em consertar muita coisa que anda errada por aí! Sim, continuamos colecionando vitórias! E continuamos confiantes, resistindo aos desafios que são tantos!
E quando pensei nisso tudo, entendi os aplausos, e aquele Sol tornou-se, pra mim, simbolo da beleza dessas nossas lutas cotidianas, que, por mais deficientes de publicidade que sejam num Brasil de mídia tão alheia às necessidades do povo, acontecem e arrebatam milhares! Lutas que de tão belas em sua verdade, merecem toda a unidade e aplausos que puderem ter consigo, mas que, com ou sem estes últimos, seguem em frente, sabendo muito bem que enquanto forem possíveis os sonhos, torná-los realidade continuará sendo nossa grande bandeira de luta!
* Trecho do Manifesto “Brasil no Estandarte, o Samba é Meu Combate”, disponivel em www.bienaldaune.org.br
Texto de Jean Falcão, vice-presidente executivo do DABIOM/UFPE, extraído da coluna CIDADANIA do blog Remussicare.